A comédia “A Cantora Careca”, de Ionesco, versa sobre a história de duas famílias inglesas do pós-guerra, burguesas e decadentes: o casal Smith e o casal Martin.
A ideia fulcral centra-se na dificuldade de comunicação ou na não comunicação entre as pessoas, desconectando-se umas das outras por não terem nada a dizer. Os Sr. e a Sra. Smith são um respeitável casal inglês com uma vida quotidiana, monótona e aborrecida, servidos pela criada Mary, namoradeira e leitora de poemas. As conversas dos Smith não têm outro tema senão falar de uma outra família, de ler o obituário de jornais, de há dois ou mais anos atrás. O casal Martin chega a casa dos Smith para jantar, sem avisarem. Estes, depois de um curto diálogo descobrem, apenas naquele instante que são casados… No serão, que se prolonga, contam-se anedotas, a campainha toca repetidas vezes, sem que alguém esteja à porta. O Capitão dos Bombeiros chega, desesperado, à procura de incêndios que não acontecem. As personagens vivem através de discursos vazios de reflexão, decorrentes da uniformização do pensamento, percorrendo caminhos circulares, sem que se possa vislumbrar uma finalidade para os seus percursos.
Este espetáculo revela-se numa crítica à sociedade onde o individual se anula no pensamento massificado, prenhe de ideias pré-concebidas. E a Cantora Careca?! Absurdo e comicidade, ingredientes que fazem um espetáculo impactante.
Texto de Eugène Ionesco. Encenação de Manuel João. Com André Carvalho, Catarina Medeiros, Marta Caldeira, Rita Miranda, Sara Freitas e Telmo Kuba.
Apoios: Câmara Municipal de Almada, Agrupamento de Escolas João de Barros. Produção: Associação Cultural O Mundo do Espectáculo