Um espetáculo sobre 25 de Abril de 1974, óbvio em 2024. Menos óbvio é como pegar nisso. O que dizer, como dizer, a quem dizer. O ator, em cena, deve sempre saber quem é o seu interlocutor, o espetáculo deve saber a quem se dirige. O ator, assim situado, verá brotar as palavras e os gestos com uma eficácia quase garantida sobre o interlocutor. Assim deveria ser com o espetáculo.
A quem nos queremos dirigir? A quem viveu o antes de Abril, a quem viveu intensamente Abril, a quem Abril soa a uma coisa do antigamente? Diria que o público preferencial seria este último. E que dizer? “Não sabem a sorte que tiveram em nascer depois do 25 de Abril”. Porque havia a guerra, claro, porque havia a PIDE, claro, porque não havia muita coisa. E porque havia uma coisa que é difícil explicar. Um mal-estar, uma ansiedade, uma apatia, um sentimento de culpa, enfim, uma depressão coletiva. E dizer que por muitas voltas que a História dê ou que nós dêmos à História esta doença nunca mais foi a mesma desde esse dia de lunáticos, sonhadores?
Um espetáculo sobre Abril com textos de António Cabrita, Jacinto Lucas Pires, Patrícia Portela e Rui Cardoso Martins, música de Martim Sousa Tavares, e encenação de Teresa Gafeira.
Pela Companhia de Teatro de Almada.
Cenografia e figurinos: Sérgio Loureiro, desenho de luz: Guilherme Frazão, vídeo: José Pires e movimento: Cláudia Nóvoa.
Interpretação: Carolina Dominguez, Cláudio da Silva, David Pereira Bastos, Duarte Grilo, Flávia Gusmão, Joana Bárcia, João Farraia, João Maionde, Pedro Walter e Íris Cañamero e Matilde Santos (estagiárias ESTC).
Piano: Ana Isabel Santos, saxofone: André Marques, sousafone: Pedro Pereira, percussão: Hélder Silva, e
assistência de encenação: Ana Valente.