Volvidas três décadas após as suas primeiras aparições discográficas, há toda uma história ainda e sempre a decorrer em torno de si. Will Oldham – ou Bonnie Prince Billy, como gosta de assinar – tem mantido uma vida artística intensa; essencialmente na música, mas também no cinema e na narração. Viu o seu cancioneiro a ser interpretado por figuras lendárias como Johnny Cash, Marianne Faithfull, Mark Lanegan ou mesmo Rosalía. Um veterano trovador folk cujas raízes na ética punk e na criatividade do rock independente continuam a brotar álbuns não só pertinentes num panorama musical tão sobrepovoado, como intocáveis pela desarmante qualidade com que o faz.
Não menos importante tem sido a sua relação com a música country – um género ainda muitas vezes olhado com desconfiança, mas que Oldham abraça e através do qual nos devolve alguns dos melhores escritos sobre a complexidade da natureza humana. O humor desconcertante, a honestidade crua e o tom por vezes enigmático das suas letras atribuem um certo magnetismo e misticismo ao seu trabalho. As edições frequentes acrescentam invariavelmente novas visões. Por mais que o conheçamos, haverá sempre espaço para revelações. E essa é uma virtude inabalável, na vida e na arte.
Este ano voltou a entregar-nos mais um álbum que desliga da corrente a realidade hipersónica lá fora. The Purple Bird soa quase fora do seu tempo, mas bem assente no espaço imaginário que Bonnie Prince Billy cunhou. Chamando a si o histórico produtor Dave “Ferg” Ferguson, abre-se, uma vez mais, o diário de um dos maiores cantautores dos nossos tempos. Acompanhado por uma criteriosa formação de músicos ligados ao som de Nashville, leva-nos a devanear por prados extensos, bares infames ou paragens absurdas – na voz que tantas vezes já nos fez sorrir, emocionar ou reconhecer-nos em pequenos detalhes. Agora, regressa a Lisboa – à sala onde, em 2014, protagonizou um concerto memorável — demasiados anos e alguns álbuns depois. Apresenta-se em quarteto com Eamn O’Leary (bouzouki), Jacob Duncan (flauta e saxofone) e Thomas Deakin ( guitarra barítono, clarinete, corneta) num concerto intimista que promete ficar na memória.