O OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, é um festival anual com uma programação que divulga o que de mais significativo se faz na música experimental contemporânea, da música improvisada à eletrónica abstracta, do free-jazz ao noise, do hip-hop de vanguarda à música clássica contemporânea, entre outras novas e inclassificáveis linguagens.
A par com a música, mostra-se um excitante universo de experiências e cruzamentos inter-media que fervilha de novidade, desafiando as regras e as fronteiras clássicas das formas de expressão artística e humana.
Desde 2004 o OUT.FEST apresentou já mais de 300 concertos em mais de 50 espaços diferentes do Barreiro, acolhendo músicos de todos os continentes e promovendo novas colaborações e trabalhos comissariados, dando a conhecer outros universos sonoros a mais de 2000 espectadores anuais.
A dição deste ano, que decorre entre 2 e 6 de outubro, assinala 20 anos do OUT.FEST, um festival que se tornou uma das marcas culturais da área metropolitana de Lisboa, de divulgação de novos sons e novas formas de ouvir em espaços e recantos inesperados da cidade do Barreiro..
Ao longo de cinco dias, mais de 30 concertos de músicas surpreendentes vindas de Portugal, França, Reino Unido, Brasil, Estados Unidos, Sérvia, Japão, Bélgica, Holanda, e Argentina, entre outros países.
No dia 6, último dia do festival, a programação apresenta na Sociedade Cultura e Recreio 1º Agosto Paivense Carolf (17h00), Ghosted (18h25), Ojoo (19h15), DJ Anderson do Paraíso (20h30), Sòn du Maquís (22h00) e Chuquimamani-Condori (23h00).
Carolf
Ao lado de João Rochinha tcp usof e Martón Toth tcp Asio Otus, Carolina Ribeiro tcp carolf tem sido uma das conspiradoras do bem responsáveis pelas celebradas sessões da Living Room.
Eventos de feitio notável na disseminação da música mais ambiental e suas tangentes mais valiosas, privilegiando o processo de escuta atenta e transportadora, podemos pensar neles como um reflexo, não só mas também, da mente de Carolf. Como se esse processo de curadoria atenta fosse projetado nas suas escolhas e no modo como essas se intersecionam, muito para além da contemplação vazia, tomando o ambient como pedra basilar para dj sets onde este se transmuta e cruza com outras músicas de devoção, elevação e apaziguamento. Presença mais do que acertada para o regresso do epílogo dominical do OUT.FEST em ano de celebração dos 20 anos.
Ghosted
Triunvirato valente formado por Oren Ambarchi, Johan Berthling e Andreas Werliin: gente sobejamente reconhecida em diversas frentes de ataque e que teve na Fire! Orchestra – onde habitam Berthling e Werliin – um primeiro ponto de contacto comunal que se desenvolve aqui no seu próprio carreiro de vontades.
Assente numa formação clássica de guitarra, baixo e bateria, este trio finta as armadilhas daquilo que podemos considerar um power trio, naquilo que tem de mais rudimentar, para fincar pé numa linguagem fluida que evoca os progressos fusionistas algures entre o cunho atmosférico da mítica ECM nos anos 70 e as viagens astrais de Pharoah Sanders ou Don Cherry dessa mesma década, o minimalismo, post-rock de Chicago e um lado ritual pan-africano num mesmo contínuo.
Temas que se vão desenvolvendo com paciência e direção, assentes numa repetição que vai encontrando formas de revolver as suas premissas continuamente em algo novo.
Ojoo
Conhecida até há pouco tempo como Ojoo Gyal, esta dj nascida e criada em Marrocos, e a residir em Bruxelas, assume o globetrotting na sua forma mais sincera e efusiva, espelhada em dj sets, no seu programa de rádio para a Noods ou em mixtapes para a Accidental Meetings e Chrome.
Recolhendo feras de pista que vão do dub e do dancehall de outrora aos avanços deste e do perreo de hoje ou as matrizes britânicas bassy mais quebradas para as cruzar com estilhaços de noise, música concreta e passagens ambientais febris, incita a uma detonação global que projeta possíveis futuros para a dança.
DJ Anderson do Paraíso
Uma das figuras responsáveis por trazer o baile funk para fora do seu centro de acção mais festivo e imediato, ao lado de nomes como Ramon Sucesso ou DJ K, Anderson do Paraíso parte das fundações mais primordiais do género para as descarnar num fluxo minimalista hipnótico que, sem parasitar a história e vida do Funk Mineiro de Belo Horizonte a traz para uma outra realidade, plena de tensão, mistério e atmosfera.
Num processo de reinvenção feito a partir do epicentro dos bailes, mais ou menos análogo ao da invenção da Batida a partir do kuduro e do tarraxo da Príncipe, da passagem do 2-Step/UKG para o grime original ou da diáspora do futuro de muitos artistas da Nyege Nyege – não por acaso, a editora responsável pela edição de ‘Queridão’ – Anderson do Paraíso inventa uma música imersiva, a espaços ameaçadora, pejada de sombras, a partir de vozes que funcionam como mantras rafeiros, detonações de baixo, uma ginga quase fantasmagórica, flautas sintetizadas e linhas melódicas esqueléticas e etéreas.
Sòn du Maquís
Previamente conhecido como Maquis Son Sistèm, sòn du maquís é o pseudónimo do francês Stefan Dubs para todas as suas empreitadas em torno do dub.
Expressando-se sob a forma de 12″ lançados pela sua Maquis Son Sistèm, um programa de rádio na LYL e um live dub onde reinterpreta as suas próprias composições partindo de cassetes, este artista de Toulouse parte do dub, não só como género em si mesmo, mas também como base de trabalho em aberto, para daí chegar a novas narrativas.
Tratando a mesa de mistura como instrumento, na senda das premissas fundadoras do dub, Dubs presta reverência ao dub enquanto o cruza com outras linhagens tangentes, numa correnteza de graves, reverberações, ecos, sirenes e breaks que traz o espírito do sound system à luz dos dias de hoje.
Chuquimamani-Condori
Após celebrados registos ao abrigo de nomes como Elysia Crampton ou E+E, Chuquimamani-Condori adopta o seu nome Aimara – grupo étnico que se espraia por entre a Bolívia, Perú, Chile e Argentina – como reivindicação dessa sua identidade e da carga cultural e histórica que lhe é intrínseca.
Artista multidisciplinar sediade na Califórnia, continua nesta encarnação um processo em curso que vem já há alguns anos a reordenar o legado de diversas músicas e danças dos Andes, como a cumbia ou a tarqueada, num plano de existência com tanto de devocional como de especulativo – sonho feito som de possíveis futuros de uma tradição vivida na hiperactividade do agora. ‘DJ E’, disco lançado sem aviso prévio no Bandcamp no final do ano transato, num reflexo da sua própria urgência, tece um ambiente denso mas quase imaterial, onde os ritmos e pedaços melódicos dessa herança são colados e transmutados em névoas e ondas de som comprimidas que fluem na sua passagem pelo tempo como miragens vividas, num todo de catarse e elevação.
Informações e programa completo em www.outfest.pt
Organização: OUT.RA – Associação Cultural. Apoio: Câmara Municipal do Barreiro.