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OUT.FEST 2024 – DeForrest Brown Jr, Leida, Fujita, Inês + Arianna + Violeta, Mariam Rezaei, Donna Candy, Nazar, France, Zancudo Berraco e Nkisi

O OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, é um festival anual com uma programação que divulga o que de mais significativo se faz na música experimental contemporânea, da música improvisada à eletrónica abstracta, do free-jazz ao noise, do hip-hop de vanguarda à música clássica contemporânea, entre outras novas e inclassificáveis linguagens.

A par com a música, mostra-se um excitante universo de experiências e cruzamentos inter-media que fervilha de novidade, desafiando as regras e as fronteiras clássicas das formas de expressão artística e humana.

Desde 2004 o OUT.FEST apresentou já mais de 300 concertos em mais de 50 espaços diferentes do Barreiro, acolhendo músicos de todos os continentes e promovendo novas colaborações e trabalhos comissariados, dando a conhecer outros universos sonoros a mais de 2000 espectadores anuais.

A dição deste ano, que decorre entre 2 e 6 de outubro, assinala 20 anos do OUT.FEST, um festival que se tornou uma das marcas culturais da área metropolitana de Lisboa, de divulgação de novos sons e novas formas de ouvir em espaços e recantos inesperados da cidade do Barreiro..

Ao longo de cinco dias, mais de 30 concertos de músicas surpreendentes vindas de Portugal, França, Reino Unido, Brasil, Estados Unidos, Sérvia, Japão, Bélgica, Holanda, e Argentina, entre outros países.

No dia 4, a programação apresenta, na Escola de Jazz do Barreiro, DeForrest Brown Jr. (17h00), na Igreja de Santa Cruz, Leida (18h00) e Fujita (19h00), e na ADAO, Inês + Arianna + Violeta, Mariam Rezaei, Donna Candy, Nazar, France, Zancudo Berraco e Nkisi (a partir das 21h30).

“Assembling a Black Counter Culture”: DeForrest Brown Jr. & Margarida Mendes

DeForrest Brown Jr., que neste OUT.FEST se apresentará ao vivo enquanto Speaker Music, é, para além de músico, curador e escritor.

O seu primeiro livro, “Assembling a Black Counter Culture”, explora as ligações entre a experiência afro-americana nos sistemas do trabalho industrializado e as inovações radicais dessa comunidade no âmbito da música eletrónica, e em particular do techno.

Nesta conversa, apresentará este tema em conjunto com Margarida Mendes, investigadora, curadora artista e educadora, cuja prática explora a mediação ecológica, com enfoque no cruzamento entre as artes visuais, cinema experimental, ecopedagogia, práticas sonoras e humanidades ambientais.

Leida

Conjurado por Mariana Dionísio em 2023, LEIDA apresenta-se como um ensemble para oito vozes que procura questionar os trâmites canónicos dos grupos corais, propondo uma abordagem não dogmática mas, ainda assim, consciente das características dos mesmos.

Abraçando a improvisação e adaptando-se ao espaço acústico onde é apresentada, a música de LEIDA desenha-se num tempo próprio nesse mesmo espaço, absorvendo e reclamando as suas propriedades, de uma forma tão aberta quanto precisa através das vozes da própria Dionísio, Beatriz Nunes, Filipa Franco, Leonor Arnaut, Nazaré da Silva, Diogo Ferreira, Hugo Henriques e João Neves.

Fujita

Se é verdade que o termo meditativo traz por vezes consigo imagens da placidez vazia new age ou associações nipónicas turísticas, não deixa de ser inegável na música de Fujita Yosuke um poder de imersão evocativo e quase ceremonial que dá a essa expressão ingrata todo um sentido que se manifesta como verdadeiro.

Após a estreia tímida com ‘Hibinari’ em 2011, nove anos passaram em relativa dormência, até ao reaparecimento em 2020 com o sagrado ‘iki’ na Hallow Ground. Peça deslumbrante amplamente elogiada, criada no órgão de tubos de invenção do próprio, ‘iki’ trouxe esse som único para a consciência colectiva mais em sintonia com as manobras mais abençoadas do ambientalismo, do minimalismo e do drone e por lá tem habitado, enleado com gravações de campo – como o chamamento de morcegos em ‘Kōmori’ -, a omnipresença vital da água em conluio com a electrónica de ‘NOISEEM’ ou a voz em ‘MMM’.

Recolhendo inspiração na música Gagaku, onde o ritual é mestre, a música de Fujita acede aos mesmos estados de concentração e escape. Meditação, portanto.

Inês + Arianna + Violeta

Nascida na sequência de um convite endereçado pelo gnration a Inês Malheiro, esta conjura completada por Arianna Casellas e Violeta Azevedo apresenta aqui ‘Volatile Poem’.

Curso sonhador de canções que se fundem num longo e volátil poema onde uma electrónica rarefeita de arpejos, texturas vítreas e rupturas se impregna no lirismo das linhas de violoncelo de Casellas e do sopro da flauta de Azevedo, conduzidas pela voz, ora descarnada, ora encharcada, numa torrente de efeitos pós-humana, assente na expressividade de Malheiro e assomada pelas harmonias beatificas de Casellas e Azevedo, ‘Volatile Poem’ é uma sequência de momentos em ascensão comunal e passagens de maior abstração que fluem num caudal onírico.

Mariam Rezaei

“How can I make the turntable sound as extreme as Roscoe Mitchell or Peter Brötzmann?” indagou Mariam Rezaei em entrevista à Wire em 2023, pouco antes do lançamento de ‘Bown’.

Ouvido esse álbum, para o qual contribuem Teresa Winter ou Bobby Glue de Guttersnipe, não temos grandes dúvidas de que a artista inglesa está a ser bem sucedida nessa sua demanda.

Ao lado de Evicshen, Nik Nak ou Maria Chavez, tem sido uma das figuras chave para a contínua vitalidade do gira-discos enquanto instrumento de pleno direito, desbravando uma trajetória própria a partir das sementes lançadas por Christian Marclay ou Philip Jeck, informada pelo free jazz, noise, drone ou composição moderna – tendo já trabalhado e composto para ensembles como Apartment House ou a Orquestra de Bruxelas.

Quer em contextos de improvisação, quer como compositora, Rezaei molda através da justaposição, do processamento eletrónico, do toque e de uma entrega com pleno sentido de direção, a matéria e espectro sonoro como quem descobre novas possibilidades harmónicas, rítmicas, líricas e sensoriais inscritas nas rodelas de vinil.

Donna Candy

Trio sediado entre Bruxelas e Marselha que tem causado merecido furor à conta de aparições incendiárias e um disco – Blooming – lançado em conluio entre KRAAK, bison, Swallowing Helmets e Isola Records.

Assente numa triangulação de estrilho entre baixo, bateria e voz, Donna Candy apresentam-se numa intenção clara de comunhão com a audiência, num processo colectivo de catarse e libertação.

Forjada nos riffs de inspiração sludge de Js Donny, nas passadas convulsas da bateria de Sila Latz e na voz alucinada e encharcada em efeitos de Nadja Meier, a música de Donna Candy invoca uma espécie de transe headbanger numa combustão de noise rock e metal esotérico onde o machismo habitual nestas andanças dá lugar a uma euforia queer. Rock enquanto colapso, em linha espiritual com nomes como Butthole Surfers, Sightings ou Guttersnipe.

Nazar

Cunhando para si e com toda a legitimidade o termo ‘Rough Kuduro’ nos seus tempos iniciais, este artista angolano sediado em Amsterdão tem vindo a revolver com uma força assinalável as implicações inerentes a essa mesma descrição.

Recolhendo inspiração primordial nesse som do seu país de origem, Nazar alavanca com a barragem rítmica propulsiva do género a descoberta de novas paragens por entre pedaços de ruído, ambiências enevoadas e gravações de campo que carregam o pesar do passado colonial e da Guerra Civil que durante décadas devastaram Angola e deixam ainda hoje marcas profundas.

‘Guerrilla’, álbum de estreia lançado em 2020 pela Hyperdub, faz jus ao seu nome, disparando feras onde os ritmos sincopados e o momentum libertador da dança evocam histórias políticas, sociais e, acima de tudo, pessoais como quem faz da batida uma arma – adaptando a expressão de Abril.

Desde então, tem lançado a seu ritmo alguns temas de igual urgência enquanto se aguarda ansiosamente por novo álbum.

France

Power trio formado por Yann Gourdon na sanfona/vielle à roue, Jérémie Sauvage no baixo e Mathieu Tilly na bateria, os France assumem o drone e o minimalismo naquilo que estes podem ter de mais extático e massivo, refutando a instituição da guitarra enquanto eixo rock para deixar que a sanfona de Gourdon, já de si instrumento dado à hipnose e repetição, assuma um papel incendiário e libertador ao longo deste pulsar.

Com antecedentes lisérgicos no stomp da ‘Sister Ray’ de Velvet Underground, no batimento motorik dos Neu!, no rock narcótico dos Spacemen 3 ou no minimalismo do Dream Syndicate, os France tecem longas digressões em torno de ritmos repetitivos e linhas de baixo repetidas ad-infinitum, sobre as quais Gourdon vai debitando torrentes de distorção, quase-riffs e cascatas de feedback num todo aparentemente monolítico mas em movimento constante. Sem ponto de partida nem de chegada.

Zancudo Berraco

Encarnação de Henrique Apolinário, artista multidisciplinar sediado no Barroso em grande rodagem nos últimos tempos, por entre a performance, a composição e várias abordagens e práticas experimentais, e que neste seu papel revela uma intuição muito própria e certeira para a exaltação da dança.

Recorrendo a maquinaria analógica, Apolinário entrega-se ao improviso em torno de linhas de baixo ácidas, batidas pulsantes do techno mais verdadeiro e texturas sintéticas num fluxo implacável que tanto comanda o corpo à dança como autoriza a mente a divagar livremente.

Aquele tipo de investida que apenas alguém com um espírito de entrega à dança e uma clara aceitação do risco inerente à criação livre consegue sacar com total propriedade. Como o próprio.

Nkisi

Nascida no Congo e sediada em Londres, Melika Ngombe Kolombo traz a bagagem cultural e espiritual do seu país de origem no nome de guerra escolhido e no som.

Adoptando a designação de um espírito ou objeto possuído pelo mesmo no rito de candomblé, NKISI recodifica essa tradição secular num corpo cibernético, onde o ritual e o transe são igualmente estratégias de resistência e elevação.

Encarnando os ritmos tradicionais do Congo num processo tecnológico iluminado pela cosmologia da África Central, a artista projeta visões Afrofuturistas assentes em polirritmias implacáveis, sintetizadores prismáticos, texturas ruidosas e a energia do techno mais industrial de assinatura Belga.

Após alguns anos de presença mais discreta, ‘7 Directions’, escancarado para o Mundo pela UIQ de Lee Gamble em 2019, decretou uma visão tão focada quanto disposta a romper e/ou confundir barreiras entre o corpo e o espírito, essência do psicadelismo como manifestação físico-mental que tem sido continuada e laminada desde então, a ter registo mais recente no alucinatório ‘The Altar’, já este ano. Traz ao OUT.FEST o seu formato híbrido de DJ set, feito exclusivamente da sua própria música.

Informações e programa completo em www.outfest.pt

Organização: OUT.RA – Associação Cultural. Apoio: Câmara Municipal do Barreiro.

Actualizado a 23/09/2024
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